Os caçadores de tendências surgiram na década de 90 e trabalham para bureaux de estilo, empresas especializadas (como o Stylus.com e a WGSN) ou diretamente para marcas/lojas/grifes. Seu objetivo principal é entender tudo que ocorre no mundo, nos espaços comunicacional e sociocultural e sob os mais diversos aspectos. Porque, acredite, quase tudo pode ser traduzido em tendências.
A partir dos dados capturados pelos cool hunters, as empresas interpretam de que forma tais informações poderão se refletir na moda e no design. Isso representa nada menos do que a possibilidade de diminuir significativamente os riscos dos investimentos na criação dos novos produtos, direcionando-os de acordo com o que foi passado: eis a importância do trabalho deles! As informações, traduzidas e mastigadas, são, claro, vendidas – e não custam barato. Mas quem usa o serviço garante que vale a pena. A tarefa de “caçar” e captar o que pode virar uma tendência é muito forte no mundo fashion.
Quer ser um caçador de tendências?
A receita para um cool hunter de sucesso é simples: pesquisa, informação (sobretudo a certa) e intuição aguçada. Tem que saber , por exemplo, se um produto será atraente daqui a 5 anos, com base em pesquisas e conhecendo todas as novas tecnologias, manias e padrões de consumo/comportamento que surgirão no mercado. Já existem cursos para quem deseja seguir a profissão. A premissa básica? Estar à frente do seu
O inicio do século 21,
trouxe a modernidade através de constantes mudanças. Esta busca por novidades e
inovações originou a necessidade de prever futuras tendências não apenas na
moda, mas para todos os outros setores do mercado. No meio desta busca pelo
futuro, surge o termo cool-hunting, que nos
últimos anos, vem sendo citado frequentemente por muitos profissionais da
moda.
O profissional cool-hunter vem despertando o interesse de uma
grande parcela de jovens do mundo inteiro devido ao fácil acesso à informação
disponível na internet. Embora muitos não saibam, atuar como cool-hunting exige um bom preparo, pois este
trabalho envolve uma visão completa de diversos setores do mercado, para
poder antecipar as tendências que serão adotadas pelos consumidores.
Para entender melhor sobre
esta profissão do momento entrevistamos quatro profissionais da área: Sabina
Deweik , coordenadora do curso de Cool-Hunting da Escola São Paulo e diretora
no Brasil da empresa pioneira em cool-hunting, Future Concept Lab; Marina Manso, correspondente na América
Latina do portal online de tendências Stylesight; Lindsey Alt, editora e
pesquisadora de tendências do portal Nova Iorquino Fashion Snoops, e Yvan Rodic, autor do famoso blog Face Hunter.
Como surgiu
Apesar da prática de cool-hunting existir há aproximadamente 30 anos,
este termo foi criado apenas na década de 90 pelo Future Concept Lab e
ainda é relativamente novo no mercado. Para Sabina Deweik, cool-hunting
é uma nova função encontrada no meio de profissionais de marketing que pesquisa
e identifica as últimas tendências do mercado.
O caçador de tendências,
ao contrário do que muitos pensam, não se restringe apenas à moda.
Atualmente, o cool-hunter também trabalha em áreas como gastronomia,
publicidade, design, automobilismo, tecnologia, entre outras. Em geral, eles
são profissionais espalhados ao redor do mundo que procuram identificar novas manifestações,
sejam elas nas ruas, na internet, ou em qualquer outra forma de comportamento
que possa gerar um movimento em um grupo relevante de pessoas.
Muitos pesquisadores, no
entanto, não gostam de usar o termo cool-hunting, pois não
acham que procurar tendências significa procurar o que é ‘cool’. Ás vezes até
desconhecem o uso do termo, porque a expressão cool-hunting é muitas vezes associada ao famoso
site Coolhunting.com. Sabina explica: “O cool-hunting não busca apenas o ‘cool’ ou o mais
inovador, ele na verdade faz um raio x do comportamento cotidiano da sociedade
e busca o espirito do tempo atual que vivemos.”
O pesquisador de
tendências também não é necessariamente um trend-setter. Ele, na verdade, é um
bom observador, antenado, que sabe reconhecer quem são os trend-setters.
Muitas pessoas acham que estes profissionais vão sempre em busca do que as
celebridades estão usando ou fazendo. Entretanto, o foco está nas pessoas
comuns, até porque muitas celebridades se vestem e se comportam de acordo com
as indicações de seus consultores.
Há dois tipos de cool-hunters:
o pesquisador de moda que busca tendências que focam as cores, formas e
materiais que devem ser usados nas próximas 2 ou 3 estações; e o cool-hunter que se aprofunda mais no comportamento
de consumo e no estilo de vida. Muitas vezes, o caçador de tendências de moda
também faz a pesquisa comportamental, pois as tendências de moda são reflexos
do desejo do consumidor. Inclusive, muitos dos temas de moda encontrados
pelos caçadores de tendências são resultados de movimentos comportamentais.
Mas afinal, o que são
tendências e onde os cool-hunters as encontram? A tendência é um
movimento que surge em diversos lugares do mundo, se propaga pela população e
permanece por um certo período. Geralmente quem a inicia não é necessariamente
a mesma pessoa que a espalha. Um produto que entra e sai do mercado rapidamente
não é moda e nem tendência, mas sim uma “fad”, palavra em inglês usada para
expressar movimentos de curta duração que são esquecidos ou tornam-se cafonas
em um piscar de olhos. O que já foi adotado por uma grande parcela da população
não é mais tendência, e sim moda.
As pesquisas levam em
consideração cores, formas, materiais, comportamento de consumo e estilo de
vida.
O produto que é tendência
geralmente aparece em uma estação e se reinventa a cada temporada. Isto não
acontece apenas na moda, mas este movimento e re-transformação também ocorre no
esporte, no cinema, na música, na saúde, e nos negócios. Algo fora do alcance
da grande maioria não é tendência, e o cool não é quase nunca o mais caro e sim o
mais raro e inovador. As tendências são primeiramente adotadas por pessoas
antenadas e conectadas com o mundo. Elas passam para as pessoas que tem
opiniões confiáveis, para depois chegar a grande massa.
O trabalho do cool-hunter
Cada caçador de tendências
tem o seu próprio método de pesquisa, mas em geral, eles frequentam os mesmos
tipos de lugares e encontram referências semelhantes. No processo de cool-hunting é preciso observar, fotografar e fazer
anotações. Por isto, na grande maioria das vezes, os pesquisadores estão sempre
com uma câmera fotográfica, um bloco de anotação, ou um smartphone capaz de
exercer as duas funções. Existem até aplicativos para celulares que permitem
que cool-hunters armazenem e organizem as informações coletadas.
Marina Manso, que pesquisa
tendências de moda na América latina, costuma frequentar eventos de moda,
feiras, lojas e as ruas. Ela também está sempre online no Twitter para ficar
por dentro dos últimos acontecimentos e saber o que as pessoas estão
falando. “A internet é uma ferramenta essencial nas pesquisas, porém não pode
ser a única, pois as ruas sempre acabam revelando muito mais detalhes que ainda
não foram desvendados”, diz Marina.
Lindsey Alt também é uma usuária assídua das redes sociais,
principalmente do Twitter, onde ela encontra constantes atualizações do
que se passa no mundo. Além da internet, Lindsey gosta de focar sua pesquisa em
diversas regiões, por isto está sempre viajando ao redor do mundo: “Eu acredito
que as informações mais importantes podem ser encontradas nos lugares mais
inesperados. Olhar algo que dita tendências em lugares que ninguém olha é o que
faz alguém um bom pesquisador,” diz a pesquisadora.
Já Sabina Deweik
,que trabalha na parte de pesquisa comportamental, usa um método
diferente . Ela costuma fazer um mapeamento do briefing selecionado usando revistas e
informações coletadas na internet. Após a primeira etapa, Sabina sai nas ruas
apenas para observar e poder afirmar as hipóteses levantadas, para depois
editar o material coletado. Apesar de hoje em dia não trabalhar mais como
caçadora de tendências, a empresária explica que quando necessário vai ao
campo, até porque, como ela mesma diz: “Uma vez cool-hunter,
sempre cool-hunter.”
As pesquisas de tendências
feitas para publicações como o Fashion Snoops e o Stylesight focam mais nas
tendências de moda e revelam o que deve ser usado nas próximas estações. Por
isto, os pesquisadores estão sempre fotografando o produto de perto e pessoas
nas ruas. O Face Hunter, Yvan Rodin,
faz um trabalho muito semelhante em relação ao estilo das ruas e está sempre
captando o estilo das pessoas nas grandes capitais do mundo. Yvan, no entanto,
não se considera um caçador de tendências, mas sim de estilo. Ele acredita que
seu trabalho influencia pesquisas de tendências de moda, porém a ideia de seu
blog é retratar estilos que o agradam. Yvan está sempre nas maiores semanas de
moda ao redor do mundo, inclusive do Brasil, buscando inovações que fujam das
mesmices. Apesar de dizer que não é um caçador de tendência, o seu trabalho é
muito semelhante ao de um cool-hunter, pois ele foge
do que é moda e busca por visuais inovadores que ainda podem virar tendência.
Por sua vez, Sabina Deweik
afirma que as pesquisas realizadas no Future Concept Lab buscam referencias
mais sólidas que vão além dos indicadores da moda. Sua equipe busca por um
núcleo específico, utilizando pessoas comuns em seus cotidianos. Mesmo que a
pesquisa seja sobre moda, a empresa vai buscar informações em diversos setores
do mercado. Entre seus lugares favoritos para conduzir pesquisas de cool-hunting estão museus, restaurantes, shopping
centers e até mesmo eventos de rua. Uma vez coletado todo o material, ela
identifica as primeiras manifestações de tendências e também analisa os fatos
do presente para projetar as repercussões futuras.
Formação
Os caçadores de tendência
geralmente vem de diversas formações, pois os cursos de cool-hunting surgiram há menos de 10 anos. Aqueles
que trabalham na área de pesquisa de tendências de moda, normalmente são
formados em moda ou emfashion
merchandising, como Marina Manso e Lindsey Alt. As duas afirmam que
entender de moda é importante, porém não é suficiente. Lindsey acrescenta: “Não
existe professor que pode treiná-lo para ter olhos que reconhecem tendências.
Ou você tem, ou você não tem.”
Muitos cool-hunters também
são jornalistas. Escrever bem é importante nesta área, pois é preciso fazer
relatórios das pesquisas justificando suas escolhas e destacando os pontos
fortes que foram analisados. É o caso de Sabina Deweik, que é formada em
jornalismo e mestre em Comunicação Semiótica e em Fashion Communications.
Sabina trabalhou muitos anos como jornalista de moda, mas só descobriu o
universo de cool-hunting durante sua temporada em Milão
enquanto fazia seu mestrado. Ela diz que sempre teve um espirito
investigativo e que sua curiosidade de saber o que tinha por traz da roupa em
termos de forma de expressão e comportamento, fez com que ela se aprofundasse em
suas pesquisas.
Outro fator importante na
formação dos caçadores de tendências é saber escrever e falar inglês fluente,
pois as grandes agências são internacionais. Mesmo as empresas nacionais exigem
que o profissional viaje regularmente, portanto, uma segunda língua é sempre
bom. Fotografia é uma ferramenta essencial no trabalho de cool-hunting,
por isto são indicados cursos básicos de fotografia que ajudam os profissionais
a manusear a câmera. Entender de sociologia e antropologia também são pontos
positivos, afinal cool-hunting é um trabalho de interpretação da
evolução do comportamento do consumidor.
Outras formações comuns
entre cool-hunter é publicidade, já que o cool-hunting é uma nova técnica usada no marketing.
Independente da formação, o cool hunter precisa ser curioso, ter um espirito
investigativo, ser comunicativo e livre de preconceitos.
Onde estudar
Por se tratar de uma
profissão nova, ainda existem poucos cursos disponíveis nesta área. No Brasil,
o mais recomendado pelos profissionais brasileiros entrevistados é o curso
técnico oferecido na Escola São Paulo. O Istituto Europeo di Design (IED),
a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e o Senac também oferecem
cursos de extensão nesta área. Para alguém que queira se aprofundar mais em
comportamento de consumo, a opção pode ser o curso de Antropologia do Consumo
de Marketing, oferecido na Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM).
Trends Gymnasium
No exterior, são
recomendados cursos no Central Saint Martin em Londres, no Domus Academy
e no Instituto Marangoni em Milão. Para profissionais de outras áreas que
pensam em se tornar caçadores de tendências no futuro, a opção pode ser o curso
a distância “Trends Gymnasium”, oferecido pelo Future Concept Lab.
Ainda sim, é recomendado
um bom estágio durante qualquer tipo de curso, pois o grande aprendizado vem
sempre da prática.
Oportunidades no mercado
Na maioria das
vezes, os cool-hunters iniciam sua carreira como freelancer
para agências. Hoje em dia, a internet permite com que pesquisadores trabalhem
à distância para muitas empresas do mundo inteiro. Portanto, o cool-hunter pode morar em São Paulo ou no Rio de
Janeiro e produzir material para uma empresa sediada em Paris. Isto aumenta a
quantidade de empregos oferecidos nesta indústria. No mundo da moda, o cool-hunter pode atuar como pesquisador e como
editor para as agências que geram conteúdo online, como consultor de tendências
para marcas de moda, ou até mesmo como jornalista escrevendo suas visões para
publicações. Ele também pode trabalhar com marketing e desenvolver estratégias
na comunicação da marca, ou ainda com design, para implementar e encontrar
inovações para o produto.
Empresas
Há diversas empresas que
geram conteúdo de tendências e, entre as mais conhecidas com foco em moda estão
o WGSN, o Stylesight, o Fashion Snoops e o Trendstop. Outra empresa relevante,
mas que gera um excelente conteúdo sobre arquitetura e design além de moda, é o
site britânico Stylus. Todas oferecem material somente para assinantes. Estas
empresas em geral trabalham com editores em sua sede, e tem pesquisadores
espalhados pelo mundo inteiro. Eles também oferecem consultoria para os
clientes que desejarem. Atualmente só o WGSN e o Stylesight tem escritório no
Brasil, sendo que o WGSN trabalha em parceria com a empresa Mindset, que dá
consultoria para empresas não só de moda.
Stylesight
Outras opção para trabalhar
no Brasil é a agência Box 1824, que é especializada em pesquisa e mapeamento de
tendências de consumo no mundo. Seu foco, não entanto, não se restringe a moda.
A Box 1824 possui clientes desde Unilever e Itaú até Nike e C&A.
O cool-hunter também pode atuar como pesquisador no
Brasil para outras empresas internacionais já que todas estas empresas
contratam pesquisadores do mundo inteiro. O Trend-watching e o Trend Hunter,
por exemplo, são duas empresas que geram conteúdo de tendência online tanto
público, quanto por assinatura. As duas focam em diversos tópicos e
oferecem oportunidades para os pesquisadores candidatarem-se para ser
trend-spotters (caçadores de tendências) oficiais do site.
Já o pioneiro em cool-hunting,
Future Concept Lab, que não oferece conteúdo online e trabalha apenas com
consultoria tem apenas um cool-hunter por cidade. O Brasil é o único
lugar além da Itália com um escritório da empresa.
As oportunidades de
trabalho como cool-hunting vem crescendo, cada vez mais, no Brasil e dando novas ideias
para profissionais que atuam no país. A pesquisa vem se tornando algo essencial
para o desenvolvimento de produtos e estratégias e, por isto empresas agora
buscam por profissionais mais especializados. A profissão cool-hunting,
porém, continua sendo um tanto desconhecida ou não compreendida por alguns
profissionais. Ser caçador de tendências não é apenas ser moderninho, ter um
blog legal e fotografar coisas diferentes. Cool-hunting é descrever o que foi
observado ao seu redor e entender a razão destas inclinações e mudanças para
desvendar as tendências futuras. Esta é sem dúvida mais uma das novas
profissões que aparece em nosso século e se populariza por causa da revolução
tecnológica. Mas vale lembrar que para ser cool-hunter é preciso bastante preparo e
conhecimento, pois qualquer resultado vem de uma pesquisa feita de materiais
sólidos e não apenas de deduções.
Por Anelisa Lima.
Fonte: Fashion Snoops e Cool Hunters